A práxis é o diálogo constante entre teoria e prática: ela evita que a teoria se afaste da prática, caindo no academicismo abstrato, e também impede que a prática configure apenas uma reprodução do senso comum, sem uma base de conhecimento especializado. Já falamos mais sobre práxis aqui.
Assim, o método da práxis pedagógica é caracterizado pela autoformação e formação coletiva, por meio da reflexão sobre a prática. A premissa é que ensinar não é somente aplicar métodos de ensino impostos por outrem: ensinar também significa pesquisar.
A práxis é, portanto, um movimento dialético. Sabrina Fernandes explica que o conceito de dialética é conhecido desde a Grécia Antiga, mas ganhou bastante destaque com Hegel, já na modernidade.
Segundo a autora, a dialética é um movimento, uma relação e um discurso: o movimento de criação daquilo que é real parte do pensamento. E se o pensamento cria a realidade, o ponto inicial permaneceria incompleto sem que algo o confrontasse.
Portanto, o conflito envolvido no movimento dialético não surge a partir de causas externas, e sim, das condições do ponto inicial, em um ciclo contínuo. Ou seja: o movimento de cada elemento carrega em si seu oposto.
É por isso que compreender a natureza dialética da práxis pedagógica nos tranquiliza quanto a contradições que venham a surgir entre teoria e prática. Ao reconhecermos que a formação docente enquanto prática e reflexão coletiva sobre a prática é um ciclo contínuo, deixamos de cair em discursos polarizadores, e na tendência de defender a teoria academicista ou a prática acrítica.
É nesse sentido que Consaltér et al. afirmam:
o profissional competente atua refletindo na sua ação para, a partir dela, criar uma nova realidade, experimentando, corrigindo, inventando e reinventando através do diálogo que estabelece com essa mesma realidade.
Naturalmente, quaisquer métodos ditos "consagrados" não têm lugar nas práticas de ensino de docentes que se engajam na práxis pedagógica. Esses métodos são substituídos por uma postura investigativa, característica de quem renuncia a identificar a sua atuação profissional como atividade técnica.
Como partir para a práxis, então?
Um primeiro passo pode ser dado nas redes sociais. Não são poucos os perfis no Instagram e no LinkedIn, entre outras, que tratam de temas relativos à educação. Essas plataformas podem funcionar como recursos para a criação de redes de contatos significativas, em que profissionais comentam o trabalho uns dos outros e fazem críticas construtivas.
Naturalmente, o ambiente escolar presencial - desde que seguro, e não assolado por uma pandemia - tem grande potencial de abrigar uma cultura da práxis pedagógica. Cabe à coordenação pedagógica propiciar esses momentos, que podem incluir reuniões presenciais ou não, e cabe ao corpo docente demonstrar interesse e participar ativamente das discussões.
Para quem está cursando a licenciatura em qualquer área, também é possível articular um grupo de estudos dentro da faculdade ou universidade. Além de combinar com colegas os temas a serem discutidos, é importante procurar a orientação da secretaria ou de um membro do corpo docente para registrar o grupo.
Assim, a atividade pode ser aproveitada para compor a carga horária obrigatória de estudos complementares das licenciaturas, motivando inclusive quem tem pouco tempo para atividades extracurriculares!
Todas essas propostas não substituem a busca por cursos de formação continuada de qualidade, mas têm a vantagem de dialogar com o contexto específico em que ocorrem. Isso significa que o aproveitamento do tempo é muito maior, já que não há desgaste com assuntos pouco relevantes.
A verdade é a seguinte: as práticas de formação continuada que não levam em consideração o conhecimento prévio de quem participa e suas condições de trabalho podem até ter sua utilidade, mas favorecem a individualidade e reforçam uma imagem de educação como transmissão de um saber produzido na exterioridade da profissão docente.
Naturalmente, outra grande vantagem dos grupos de formação em práxis pedagógica é a redução de custos, pois sabemos que o investimento em cursos de qualidade é alto.
Porém, para garantir que o método da práxis pedagógica tenha sucesso, são necessários dois fatores: fazer as pazes com o conhecimento teórico nos momentos de formação de professores, e transformar a própria prática em um objeto de estudo.
A práxis é mais do que compreender a realidade: é compreendê-la com o objetivo de transformá-la.
Baseado em:
CONSALTÉR, E.; FÁVERO, A. A.; TONIETO, C. A formação continuada de professores a partir de três perspectivas: o senso comum pedagógico, pacotes formativos e a práxis pedagógica. Educação Em Perspectiva, 10, p. 1-14, 2019. DOI: 10.22294/eduper/ppge/ufv.v10i.7121
FERNANDES, Sabrina. Se quiser mudar o mundo. Um guia político para quem se importa. São Paulo: Planeta, 2020.
Este texto foi escrito em linguagem neutra de gênero. Doeu? ;)