Aula de conversação ou bate-papo?
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Aula de conversação ou bate-papo?

Você sabe dar aulas de conversação, prof?


“Aula de conversação” não é bate-papo sobre amenidades do cotidiano.


Geralmente, as aulas de conversação em língua adicional são procuradas por três tipos de pessoas:


  • Quem está sem contato com a língua e não quer enferrujar;

  • Quem está com viagem para o exterior marcada e quer melhorar a fluência antes de partir;

  • Quem tem pre-gui-ça de estudar e busca um jeito milagroso de aprender por osmose. (Pronto, falei!)


Acontece que ficar apenas conversando sobre os assuntos que aparecerem, e dar uma reforçadinha na gramática enquanto faz isso, não é a melhor forma de dar aula de conversação.


Além de se perguntar o que os seus alunos querem dizer, é necessário saber o que eles têm a dizer - e, acima disso, de onde vem aquilo que eles têm a dizer.


aula de conversação


Afinal, despertar a consciência é papel crucial de quem trabalha com Educação Linguística. Apenas por meio da língua é que se pode colocar ideias no mundo, e construir um projeto de sociedade. E é por isso que se faz urgente descolonizar a educação e o ensino de língua.


Conversação de verdade é debate. É questionamento. É buscar a raiz de um problema banal, a ideologia por trás de um filme, o viés político de uma notícia. Descolonizar o olhar que normaliza situações de desconexão entre o que se vê em sala de aula e o que se vê na vida real.


A língua é prática social, e como absolutamente qualquer prática social, ela é política. Sem análise, questionamento, elaboração de ideias, debate… a língua não serve pra nada. Nem gramática avançada, nem vocabulário específico, nem objetivos comunicativos, nada disso terá serventia.


Porque descolonizar não é teoria, não é poesia, não é palavra de ordem vazia. É construção política, Práxis pedagógica. É saber de onde vêm os nossos problemas para não buscar na fonte deles a solução.


Os professores de língua contemporâneos acabam, por vezes, agindo como colonizadores. Ao proibir a língua materna, ao reprimir erros típicos de quem aprende, ao insistir na pronúncia típica de um ou dois países ignorando todos os outros.


Ao ensinar como se todo aprendiz estivesse a ponto de viajar para o exterior, em um país onde 70% da população ganha até dois salários mínimos (dados de 2022).


É por isso que questões políticas não podem ficar de fora da aula de língua. Elas exercem influência direta sobre a forma como o povo brasileiro tem acesso às línguas e como as percebe: difíceis, elitistas, até mesmo inúteis. Faz sentido?


A solução não está no próximo método importado ou na mais nova certificação internacional. Fazer a diferença para o seu aluno é escutar o que ele tem a dizer. Dar voz a ele.


Agora, você já sabe o que eu vou falar: tudo isso aí pode ser chamado de ensinar Além da Língua. Porque enquanto ficarmos nessa prisão da gramática, do vocabulário e do objetivo comunicativo, a língua continuará distante da realidade do nosso aluno.


Olhar para Além da Língua não é olhar para fora. É para dentro.



aula de língua estrangeira

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