Escrevo este texto no primeiro dia do inverno de 2024, uma sexta-feira. Essa foi uma semana de surpresas nada surpreendentes entre as notícias que tomaram o Brasil, e novamente eu venho aqui para te mostrar o que tudo isso tem a ver com o ensino de língua.
1. Extrema-direita odiando mulher* - a PL do estuprador
2. Mulher banqueira de extrema-direita - a CEO do Nubank compactua com o grupo de ódio e fake news Brasil Paralelo
3. Pastor evangélico de extrema-direita defendendo a ignorância da mulher - André Valadão diz a fiéis que bíblia vale mais que faculdade

O sistema de produção capitalista deriva da colonialidade. Deriva da ideia de que a Europa é o continente do progresso e da civilização - ainda que estivessem chafurdando em peste negra quando inventaram isso, enquanto as populações ameríndias sabiam minimamente manter a higiene. Enfim.
Foi essa idealização da Europa que criou o elitismo brasileiro. "Falar como um nativo", porque só a língua do europeu era língua de verdade.
E as populações não-brancas foram sendo relegadas a mão-de-obra braçal, porque "eram primitivas". Só o branco tem intelecto: penso, logo existo. O índio seminu, a africana do quadril avantajado, não eram gente.
Claro que tudo isso só foi possível por meio de um poderoso mecanismo de lavagem cerebral: o cristianismo. Tem que se vestir, não pode dançar, não pode fazer o que quiser com o próprio corpo. Corpo esse que pertence aos brancos, quer dizer, a Deus - um deus branco, distante, vigilante e punitivista.
Um deus que morre de medo do útero, esse sim gerador da vida, e por isso faz de tudo para controlá-lo cruelmente.
Em muitos sentidos, o conservadorismo saiu do esgoto brasileiro em 2018 - mas, em outros, ele nunca se escondeu. Aprender "cultura" europeia na aula de língua. Admirar as instituições do Norte Global, construídas com o nosso ouro.
Se humilhar tentando "falar como um nativo", isto é, ser validado por um europeu (ou estadunidense). E o tal nativo, assim que souber que você nasceu no Brasil, provavelmente vai mudar a forma como te trata.
Banir tópicos polêmicos que realmente fariam o aluno falar, como religião e política - depois não saber por que é tão difícil trabalhar a tal da motivação.

Combater o conservadorismo, o elitismo, o capitalismo e o fundamentalismo cristão é necessário para resgatar a voz do brasileiro.
Enquanto o pensamento de quem ensina língua for colonizado, não vai ter brasileiro fluente em língua nenhuma.
Salvo as poucas exceções que provam a regra.
A boa notícia é que os alunos dos professores que ensinam Além da Língua estão dentro dessas exceções que provam a regra do fracasso do ensino de línguas no Brasil. Porque, aqui, a gente sabe aplicar estratégias que conferem emancipação linguística ao aluno.
Ou, em palavras mais diretas, a gente manja - os jovens de hoje dizem "tem o molho". A gente sabe introduzir temas polêmicos em aula, sem deixar que ela vire palco para a tal doutrinação comunista (até gostaria, né? Mas infelizmente não pode).
Se você gosta da ideia de que o seu trabalho em Educação Linguística seja um tijolinho na construção de um mundo e de um Brasil menos dogmático e mais questionador, é hora de ensinar Além da Língua.
*nem todas as pessoas com útero são mulheres. Mas a ideologia cristã não aceita isso.