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Educação Linguística contra o neoliberalismo

O ensino de línguas no Brasil vem sofrendo há décadas com os efeitos do neoliberalismo. Para listar três de seus mais nefastos efeitos, temos a crença em que não se aprende línguas na escola, o consequente crescimento dos cursos de línguas privados, o posicionamento tradicionalmente acrítico dos professores de línguas.


Essa ideologia fortaleceu a compreensão de que o ensino de línguas, como o de outras disciplinas, tem como objetivo servir ao mercado financeiro, isto é, a finalidade de aprender línguas seria conseguir destaque no mercado de trabalho.


Hoje, em grande parte devido a essa visão limitada dos objetivos de aprender uma língua, o inglês é a única língua de oferta obrigatória no sistema escolar brasileiro. Para efeitos ilustrativos do declínio do ensino de línguas ao longo do século XX, podemos comparar essa situação com a de 1870: segundo o Plano de Estudos do Colégio Abílio do Rio de Janeiro naquela década, estudava-se francês nos três anos de instrução primária, e latim, francês, inglês e alemão distribuídos ao longo dos sete anos de instrução secundária.


Com o passar do tempo, não só diminuiu a quantidade de línguas ensinadas nas escolas, mas também se alteraram muito as concepções de língua e de sujeito que permeiam esse ensino. A pedagogia pós-método abriu espaço para uma reflexão acerca do papel do professor de línguas, que, enquanto confinado a métodos fechados, não dispunha de oportunidades de exercer de forma crítica o ofício docente.


E hoje, o que queremos? Não é possível que toda essa história de altos e baixos do ensino de línguas no nosso país tenha culmine na indiferença diante da desigualdade de oportunidades.


Conhecer a história serve para compreender de onde vêm os caminhos que acreditamos ser os únicos possíveis: o ensino de línguas em sua forma mais erudita, de modo a apagar qualquer traço de personalidade do aprendiz de um país não-hegemônico. O baixíssimo acesso a esse conhecimento a quem não faz parte de um grupo muito seleto. Os métodos engessados e acríticos que formam falantes robotizados e sem autoconfiança alguma.


Nada disso vai mudar enquanto não compreendermos o papel da Educação Linguística na sociedade brasileira. Porque toda sala de aula pode e deve ser, ao mesmo tempo, um campo de batalha contra aquilo que nos oprime e um terreno fértil no qual semear a paz e a esperança. E uma sala de aula de outra língua tem potencial em dobro.


É preciso pensar uma Educação outra. Priorizar mais do que a comunicação, a expressão em outra língua. Desenvolver o pensamento crítico dos nossos alunos. Incentivar interações translíngues, em que cada um pode ser quem é.


Menino negro na escola

 

Adaptado de:


GRILLI, Marina. Passado, presente e futuro do ensino de línguas no Brasil: métodos e políticas. Linguagens – Revista de Letras, Artes e Comunicação, v. 12, n. 3, 2018, pp. 415-435.



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