Neste ano do centenário de Paulo Freire, o cenário educacional brasileiro não é dos melhores.
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Os sucessivos ataques à educação pública, iniciados com os movimentos neoliberais há mais de cinquenta anos, pareciam ter atingido seu ápice com a Emenda Constitucional do teto de gastos, aprovada meses após o golpe presidencial de 2016.
Justamente por isso, se faz necessário que cada vez mais profissionais da educação se familiarizem com a obra de Freire.
Infelizmente restrito, no Brasil, a cursos de graduação em Pedagogia, o pensamento do autor é estudado nas melhores universidades do mundo, e ao fim deste breve texto você já terá entendido por que ele é tão temido pelos bilionários que controlam as grandes holdings do mercado educacional brasileiro, e, consequentemente, pelo povo manipulado pela elite e alienado dos próprios interesses.
Pedagogia da Autonomia é uma apelo para que coloquemos em prática a educação crítica, único meio de formarmos seres humanos críticos e conscientes, capazes de transformar a realidade. (OK, não precisou chegar ao fim do texto, a resposta sobre a demonização de Freire está aqui!).
Freire inicia o livro anunciando que não se pretende assumir como observador imparcial desse realidade, pois a observação sempre parte de um ponto de vista. O erro é absolutizá-lo, isto é, não reconhecer que se trata de um ponto de vista, embasado por um aparato ideológico que sempre representa uma escolha por parte de quem fala.
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Além de um posicionamento político claro, o autor determina como tarefa pertinente ao compromisso de quem ensina o estímulo à curiosidade, e mesmo a uma certa rebeldia. Para ele, ensinar de forma democrática passa por lapidar a capacidade crítica de quem aprende, sua curiosidade e sua insubmissão.
Ou seja: aprender só é possível por meio da reconstrução do saber ensinado.
Neste livro, Paulo Freire também se debruça sobre o fatalismo, ou determinismo, que nos leva a uma posição passiva diante da realidade que vivemos, como que aceitando o discurso "é assim mesmo".
O autor relaciona essa postura ao discurso neoliberal, cujo interesse é não agir para diminuir as desigualdades, e sim, perpetuá-las. Ele observa que o desemprego é tratado como uma fatalidade, mas o prejuízo da classe empresarial que perde dinheiro com especulações no mercado financeiro não recebe o mesmo tratamento: logo surgem exigências de intervenção estatal para contê-lo...
Em relação à formação docente, Freire defende a reflexão crítica sobre a prática, isto é, o método da práxis pedagógica. Ele reforça que o discurso teórico deve ser tão concreto que quase se confunda com a prática.
Por fim, Freire afirma ser falsa a separação entre seriedade docente e afetividade, pois a competência docente não está atrelada à severidade e à frieza no relacionamento com quem está aprendendo – muito pelo contrário!
Pedagogia da Autonomia, lançado no ano de 1996, foi o último livro publicado por Paulo Freire ainda em vida. Se, por um lado, é desolador que ainda não tenhamos superado os problemas da severidade na educação e do neoliberalismo se imiscuindo no ensino público, por outro lado é justamente essa conjuntura que nos deve levar a retomar a popularidade do autor.
Paulo Freire é o maior representante brasileiro da educação. Façamos por merecê-lo!
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Baseado em:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz & Terra, 2019 [1996].
Este texto foi escrito em linguagem neutra de gênero. Doeu? ;)