Colonialidade é a mentalidade colonial: a ideia de que tudo que vem dos países hegemônicos é melhor, superior, civilizado, erudito, sofisticado, evoluído.
Imagino que, a essa altura, você já saiba disso - mas, se acaba de chegar a este blog, sugiro começar pelo post anterior. Lá, expliquei que é possível compreender a atitude dos professores brasileiros de outras línguas a partir de três categorias: submissão, questionamento e subversão em relação à colonialidade.
Se a submissão à colonialidade se manifesta na defesa dessa pretensa superioridade dos Estados Unidos e da Europa, o questionamento da colonialidade é representado por uma comparação entre aspectos desses países e do Brasil em condições de igualdade.
Na língua, isso significa substituir a defesa da pronúncia mais próxima possível à do falante nativo de um dos países hegemônicos pelo reconhecimento de que todo mundo tem sotaque.

O questionamento da colonialidade linguística também se manifesta no ensino intercultural comparativo, aquele que não se resume a endeusar estereótipos romantizados da vida em um país hegemônico. Interculturalidade é sinônimo de trocas mais horizontalizadas.
Assim, questionar a colonialidade no ensino de cultura envolve conscientizar os alunos de que o Brasil também tem muitos aspectos positivos - alguns dos quais, inclusive, nem sequer estão presentes em boa parte dos países hegemônicos. Um ótimo exemplo de equipamento de bem-estar à disposição da população brasileira, referência em todo o mundo, é o SUS.
Abrir espaço para discutir o carnaval enquanto representativo do Brasil como um todo, assim como outros símbolos do tipo, também é questionar a colonialidade. Se esse tipo de debate encontra lugar na aula de língua, constituindo uma oportunidade de aprender novos termos e usá-los em diálogos espontâneos, questiona-se a colonialidade também do ponto de vista da língua.
Mas vale lembrar: questionar a visão de um Brasil resumido a determinados ícones culturais estereotipados não significa negar as origens amefricanas do nosso povo! Continuar reforçando a suposta erudição da cultura europeia em comparação com a nossa não é nada questionador, e sim, conservador, colonial e racista.
Outra atitude relevante para questionar a colonialidade linguística é deixar de lado a necessidade de que a aula seja completamente monolíngue.
Assim, deixar escapar uma palavra em outra língua deixa de ser motivo de vergonha, e comparar duas ou três línguas de modo consciente deixa de ser um problema para se tornar um recurso válido.
Em resumo, questionar a colonialidade está ao alcance de todo mundo. Basta modificar algumas das nossas atitudes em sala de aula que, por vezes, reproduzimos sem nos dar conta do quão prejudiciais, repressoras, ineficazes e ultrapassadas elas são. Faz sentido, prof?
Em relação à postura de submissão à colonialidade linguística, que discutimos anteriormente, questioná-la é muito mais libertador.
Mas ainda é pouco.
A colonialidade, como qualquer sistema de dominação e reforço da desigualdade, não precisa ser "questionada". Precisa ser combatida.

E é por isso que nós precisamos conversar sobre subverter a colonialidade enquanto prática educativa fundamental - não só na língua, mas enquanto sistema de poder como um todo.
Inspirado em:
GRILLI, Marina. Submissão, questionamento e subversão da colonialidade linguística nas práticas de ensino de alemão para o público brasileiro. Tese de Doutorado em Educação. São Paulo: Faculdade de Educação da USP (FEUSP), 2023.