Eu sou professora de línguas há 18 anos e defendo o uso do Duolingo.
“Como assim, Marina? Você está dizendo que um aplicativo de celular equivale a aulas com uma pessoa formada para ensinar?”
Não, não estou dizendo isso.
“Você está dizendo que basta jogar um joguinho cheio de frases repetitivas para aprender uma língua?”
Não, não é isso.
“Você concorda com a desvalorização do trabalho docente e a ideia de que a inteligência artificial pode substituir qualquer profissão?”
Não.
“Então quer dizer que estudar por meio de livros é uma prática ultrapassada e desnecessária?”
Também não.
Acontece que nenhum método de ensino é perfeito. Em vez de se perder tanto tempo memorizando e aplicando metodologias de ensino, profissionais da Educação Linguística deveriam focar mais em estilos de aprendizagem: o que funciona para uma pessoa não vai funcionar para outra.
Por isso, é importante testar o máximo possível de recursos existentes e diversificar as fontes de contato com a nova língua: se o livro didático tem um papel, o aplicativo gamificado tem outro. Se a aula ministrada por uma pessoa devidamente preparada faz toda a diferença, a busca por um passatempo divertido que envolva a língua também faz.
O único jeito de superar o enorme distanciamento entre o povo brasileiro e as línguas adicionais é parar de criticar as oportunidades de contato linguístico que as novas tecnologias nos oferecem. Aí entra o famoso Duolingo, mas também qualquer outro aplicativo ou jogo eletrônico que proporcione esse contato.
Chega de insistir na ideia de que só a aula tradicional é espaço de produção - ou, pior, de “transmissão” - de conhecimento. Essa postura, além de ultrapassada, é elitista: quem consegue ter acesso a um curso de língua hoje? Certamente não é a maior parte do povo brasileiro.
O nosso papel, enquanto educadores linguísticos, não é guardar a sete chaves o precioso conhecimento que poucos conseguirão alcançar. É o oposto disso: desmistificar a língua.
Tornar o acesso a ela cada vez mais acessível e mais leve. Mostrar que existem muitos caminhos para aprender - e que todo mundo tem o direito de encontrar o seu.
Este texto foi escrito em linguagem neutra de gênero. Doeu? ;)
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