O jeito errado e o jeito certo de usar IA na aula de língua
- marina.grilli.s
- 14 de abr.
- 5 min de leitura
Pode deixar de lado o medo de perder alunos particulares para a IA, prof: você com certeza vai perder.
A professora que se comporta como gramática ambulante ou fiscal de pronúncia vai perder alunos.
O professor cujas aulas de conversação são aquele bate-papo leve e descontraído vai perder alunos.
E quem prepara aulas recheadas de curiosidades culturais de países distantes... já está perdendo alunos.
Porque ninguém espera isso de uma aula, sabia? Eu sei que o aluno te procura com esse discurso, "quero aula de conversação", "sou apaixonado pela cultura". Mas quem tem que entender o que ele realmente está buscando, por trás dessas falas comuns é a professora. Esse é o seu papel: compreender e entregar aquilo que vai aproximar o aluno de seus objetivos, e não apenas entreter.
Educar o olhar de quem aprende outra língua para enxergar o mundo de novas formas é o seu papel - e não ficar falando de monumentos que o aluno nunca visitou.
Estimular o plurilinguismo, por meio da fala livre e espontânea que não espera 5 anos para aparecer, é o seu papel - e não criar um falante monolíngue, receita infalível para a insegurança.

Promover a Educação Linguística para a livre expressão de quem é o indivíduo brasileiro que se apropria de novos recursos linguísticos, é o seu papel. Porque despejar informação, qualquer robô faz.
E revisar vocabulário com frases descontextualizadas, e corrigir gramática, e torrar a paciência com regras de pronúncia que só uns 5% dos falantes do mundo seguem à risca... qualquer robô faz! Não precisa nem ser dos melhores.
Portanto, se o seu aluno enxerga que você, no papel que ocupa hoje, é substituível por um robô... eu vou ter que ficar do lado dele.
Agora, vamos pensar em como não ser substituídas por inteligência artificial nenhuma.

Outro dia, vi no LinkedIn um post que sugeria o seguinte prompt para o ChatGPT: “com base em tudo que você sabe sobre mim, crie uma imagem que represente exatamente quem eu sou”.
Eu uso muito pouco o ChatGPT - e quando uso, é para criar conteúdo nos cursos ensinando você a usá-lo nas suas aulas. Afinal, se a gente parte de um embasamento sólido, como é o caso aqui na Escola Além da Língua, qualquer ferramenta serve a ele.
Serve, entendeu? Não substitui, pelo contrário.
E com base no que sabe sobre mim, ele criou uma imagem bem fiel. Pedi que mudasse alguns detalhes na minha aparência física e trocasse a xícara de café (que não bebo) por um incenso. O resultado final foi este, e eu adorei!
Dá para explorar muito esse recurso nas aulas. Lembra das velhas aulas de descrição da aparência física dos personagens do livro, de trazer fotos da família para descrevê-los, de descrever os colegas, descrever todo mundo? Mais diverso e menos invasivo podem ser as versões dessa atividade com o uso de imagens geradas por IA.
Para os níveis iniciantes, basta que cada aluno descreva a si mesmo e a um colega, e depois comparem as imagens. Refinar a descrição, solicitando que a IA modifique determinados detalhes, também é parte do conteúdo de aula - e por que não pedir que cada aluno descreva um colega diferente, e depois desafiar todos a encontrarem o próprio "retrato"?
E se você não tiver nenhuma turma, mas somente alunos avulsos, melhor ainda! É a oportunidade perfeita para fazer disso um projeto extra, como um clube de conversação, que pode terminar aí ou incluir novas atividades periodicamente. Com uma ou duas horas a mais de trabalho a cada semana, você:
promove a integração entre alunos de níveis diferentes, prevenindo inseguranças e derrubando a ideia de perfeição;
cria oportunidades de interação em outra língua entre pessoas que não se conhecem, desmontando a ideia de dependência de um nativo;
estabelece um ambiente comunicativo autêntico, isto é, onde a língua serve para um fim espontâneo e relevante, e não superficial ou desconectado da realidade;
motiva o aluno a usar a língua fora da sala de aula, e, por tudo isso,
eleva a percepção de valor da sua hora/aula.
Todos os detalhes sobre como levar alunos de todos os níveis a conversar entre si, dentro de uma lógica de clube de conversação no próprio WhatsApp, eu te entrego no segundo módulo da Formação Além da Língua: rotina de mensagens, como liderar o grupo para que não vire bagunça, quando cobrar interação e de quem, como precificar e transformar o clube em um serviço VIP que complementa as suas aulas, como implementar avaliação continuada leve e eficaz.
Nos níveis avançados, dá para complementar a descrição física com informações relevantes sobre a filosofia de vida de cada um, para que tudo isso seja incorporado à imagem.
O projeto pode ser pensado a longo prazo, alimentando o Chat com as opiniões do aluno nos debates que você promove em todas as aulas, a partir dos resumos por escrito que solicita aos alunos também em todas as aulas - e que todo mundo faz, sem stress e sem bloqueios. Do jeito que eu te ensino em detalhes lá no primeiro módulo da Formação Além da Língua: como fazer o aluno não apenas falar, mas debater temas relevantes e ainda escrever, em todas as aulas, desde o nível iniciante.
Foi mais ou menos isso que eu fiz para gerar a imagem acima. Nunca forneci descrição física minha ao Chat e tive que pedir alterações nesse sentido, mas como o utilizei algumas vezes para aprimorar ideias de divulgação da marca Além da Língua, ele parece ter compreendido profundamente a essência da nossa comunidade.
E, mesmo assim, você sabe que não foi ele que escreveu este texto. Em nenhum momento ele te pareceu artificial. E como você sabe? Porque ideias de como preparar aula, é óbvio que o ChatGPT, a Deepseek, o Gemini ou qualquer outro robô que suga dados de toda a internet consegue fazer.

Mas pensar, não.
Enxergar criticamente, integrar fala-escuta-leitura-escrita de um jeito diferente a cada aula, inserir debates relevantes em todas as suas aulas, e te mostrar a lógica da aula que funciona e leva o aluno a falar espontaneamente... nada disso a IA pode fazer.
E nem é só porque ela não pensa, mas apenas reproduz ideias preexistentes - é porque essas não são ideias preexistentes. O ensino Além da Língua não se parece com nada que você ou o seu aluno já tenha vivenciado antes.
É por isso que a professora que ensina Além da Língua nunca terá motivos para temer "ser substituída" por IA.
Percebe? Quem tem medo de perder espaço para a IA é quem vai perder espaço para a IA, sem dúvida, e com belos motivos.
E quem não quiser perder... pode começar deixando de lado os treinamentos em ideias que qualquer IA já consegue imitar, e clicar aqui.