"Material autêntico": mitos X possibilidades
- marina.grilli.s
- 23 de set. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 18 de mar.
Quem busca aprender uma nova língua se vê dentro de uma verdadeira lavagem cerebral, com a falsa ideia de que o seu conhecimento só tem valor quando envolve a comunicação com um falante nativo.
Melhor dizendo: essa ideia já está enraizada no público brasileiro antes mesmo que se tente começar a aprender qualquer coisa.
O caso é que o uso de materiais "autênticos", isto é, não criados especificamente para o ensino-aprendizagem de língua, é mais uma das falácias supostamente necessárias para que o aluno se torne capaz de compreender "os outros".
"Os outros", quem, né? Essa é uma pergunta que pouca gente se faz. Mas deveria.
Veja: é verdade que o conteúdo dos livros didáticos importados pode acabar sendo simplificados em excesso. Cheio de frases pobres que reforçam tópicos de gramática ou vocabulário, com pouca preocupação em explorar camadas e nuances da língua.
Mas vamos combinar que não é esse o motivo pelo qual costumam ser criticados, né? A tendência a desprezar o livro didático para santificar o tal material autêntico é bastante representativa de três problemas crônicos:
o endeusamento das variedades linguísticas dos países hegemônicos
a eterna postura de jogar no lixo tudo que veio antes, e continuar buscando cegamente uma solução milagrosa e ideal
a normalização do trabalho precarizado e não-remunerado da professora que passa horas procurando material internet afora
Mas, sim, o problema tem solução. Na Escola Além da Língua, a única do Brasil voltada para a formação de professores que ensinam adultos, nós trabalhamos sistematicamente em dois pontos para sanar esse problema.
Primeiro: é plenamente possível combinar o uso de um livro didático como base a recursos midiáticos variados, autênticos e não autênticos.
Porque não ter livro dificulta muito que você tenha uma base. É não aproveitar o conhecimento de quem veio antes. É não se beneficiar do trabalho de quem foi contratado para sistematizar esse conhecimento - e, mais do que isso, é negar ao aluno a oportunidade de ter contato com visões de mundo, por mais que elas devam ser criticadas.

A outra solução passa por entendermos que "autêntico" não precisa ser sinônimo de "nativo": vamos colocar nossos alunos para criar conteúdo em texto escrito, áudio e até mesmo vídeo uns para os outros.
Porque o real problema do ensino de línguas, em um país colonizado como o nosso, é achar que língua é sinônimo de comunicação com nativos e só.
Dá até pra parafrasear aquele meme:
23:59 Saber inglês é bom para se comunicar com gente do mundo todo...
00:00 ...mas só se for britânico ou estadunidense.
🤡
É por isso que, na Práxis, a gente reúne professores de uma mesma língua - ou não - para gravar áudios sobre temas específicos que queiram trabalhar com seus alunos.
Porque é exatamente essa multiplicidade de gentes e falares que o aluno precisa ser capaz de entender. E porque "autêntico" não deveria ser sinônimo de "limitado".
Se você já cansou de gastar com certificações internacionais que não fizeram nenhuma diferença na vida do seu aluno, clique aqui para conhecer a Práxis.