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Feliz dia de exaltar o colonizador

  • Foto do escritor: marina.grilli.s
    marina.grilli.s
  • 17 de mar.
  • 3 min de leitura

Bora pro raio problematizador da semana?


Não que faltem oportunidades para exercer o pensamento crítico nos tempos atuais: pandemia, temperaturas extremas, Oscar para um filme sobre a ditadura, inflação, crente se metendo no carnaval e até na balada, "apartamentos" de 18 m², falta de energia, golpistas do 8 de janeiro sendo presos, alagamento por todos os lados. Fácil? Não está.

E quem já aprendeu a enxergar Além da Língua também sabe que não faltam oportunidades para discutir tudo isso em aula - mesmo em níveis iniciantes, mesmo sem perder trocentas horas planejando os detalhes do conteúdo. Isso eu te ensino aqui.


Mas hoje a gente tem que voltar a falar dessa modinha de exaltar colonizador, sim. Mais precisamente, o tal do São Patrício.


Comemorando o Saint Patrick's Day - infelizmente
Comemorando o Saint Patrick's Day - infelizmente

O 17 de março é, para os professores de inglês, mais ou menos o que era o 31 de outubro uns vinte ou trinta anos atrás - apenas mais uma data "que não pode passar em branco" para quem aprende essa língua. O Halloween acabou ganhando projeção nacional para além do estereótipo neocolonial estadunidense - felizmente, pois se trata de uma celebração pagã, que por si só já afronta grande parte dos ideais de evangelistão que o Brasil vem adotando a passos largos.


Já o Saint Patrick's Day é o exato oposto. Patrício era um cara que "ensinava" sobre a santíssima trindade cristã usando um trevo de três folhas, isto é, enfiava cristianismo goela abaixo nas pessoas.

Percebe como perpetuar a comemoração dessa data é tão violento quanto homenagear Anchieta, Raposo Tavares, Borba Gato? É a imposição colonial não apenas destruindo outras crenças e modos de vida, mas também garantindo sua posição de prestígio através dos séculos.


Celebrar Saint Patrick's no Brasil tem uma camada dupla de problema: é uma data de reafirmação da hegemonia cristã sobre povos que cultuavam outros deuses, importada para um país onde se cultuavam outros deuses ainda. Um verdadeiro festival de escárnio contra povos dizimados pelas "santas" guerras.


Comemorando o Saint Patrick's Day - infelizmente
Mas é tão bonitinho ver crianças se divertindo com a lembrança do genocídio, né?

Bem, se você leu até aqui - principalmente se a língua que você ensina não é inglês - parabéns, prof. Você não é uma pessoa dogmática, limitada, conservadora. E compreende que o pensamento crítico deve ter lugar na sala de aula, sempre.


É isso que eu vou te mostrar agora: como trabalhar esta data, e qualquer outra do tipo, de um jeito que faça sentido para o aprendiz brasileiro. Porque se fazer de isentona e passar em branco nunca foi solução, né?


A gente começa as aulas Além da Língua, quase sempre, com um vídeo ou arquivo de áudio. Aqui eu te mostro como selecionar ou criar esse conteúdo sem gastar muito tempo - mas vamos combinar que, dessa vez, tá fácil. Até mesmo uma foto de adultos pateticamente vestidos de verde pode ser o ensejo perfeito, se você souber conduzir o debate.


Lembre-se: o segredo da aula que faz o aluno falar não é segredo nenhum. É a coisa mais fácil do mundo. Em vez de dar o conteúdo, isto é, dar as respostas, você faz perguntas. Deixe que o aluno fale, descreva a foto ou vídeo, explique o que entendeu das falas. Pergunte quem são aquelas pessoas e como elas estão se sentido, o que estão vestindo e por quê, qual o significado da data.


Aí vêm o vocabulário e a gramática: você mostra um texto escrito aprofundando o assunto, e destaca os pontos-chave. Os alunos podem completar lacunas no texto com palavras que você retirou dele ou relacionar essas palavras a uma lista de definições. Depois, reescrevem frases usando determinado tempo verbal ou conjunção.

Como montar tudo isso, eu também te ensino aqui.


Fingindo estar em outro país
Fingindo estar em outro país

Que tal complementar a aula falando sobre cultura? Sem esquecer de que trabalhar cultura não é, ou melhor, não deveria ser sinônimo de despejar ideologia colonizadora pra cima do seu aluno.


Agora que ele já teve contato com conteúdo crítico sobre a data "comemorativa" em questão, você fala da geografia da Irlanda, comparando com a do Brasil.


Fala da história da colonização da Irlanda, e em que pé estavam as coisas no Brasil àquela época. Spoiler: a gente não sabe, pois os europeus destruíram qualquer registro de como as coisas funcionavam por aqui antes de 1500.


Pergunta o que eles pensam sobre perpetuar essa comemoração, sobretudo no nosso país.


Parece um assunto avançado demais para alunos de nível básico? Bom, não é, não. Basta você incentivar a criação de frases simples, iniciando com perguntas de sim ou não - e, obviamente, não reprimir o português nos momentos de debate intenso.


(Aliás, não reprimir o português nunca! Ou, melhor ainda: fale português na aula de inglês.)


E se você gostou dessa breve introdução a uma sequência didática que leva o seu aluno a enxergar Além da Língua, eu te espero aqui dentro com muito mais.

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